Vou jogar muito limpo com vocês, leitores do Classe Nerd: eu não esperava absolutamente nada de Cruella, o novo live action da Disney. O motivo? As várias produções medianas que foram entregues ao longo dos últimos anos, como Dumbo, A Bela e a Fera e O Rei Leão (estes eu vi e considero bem abaixo das expectativas e do potencial das obras originais). Mulan também recebeu várias críticas, porém eu compreendo as adaptações feitas, exceto o final acelerado que não me agradou.
Óbvio que meu discurso inicial mostra que eu gostei (e gostei muito) de Cruella. Então, vamos às explicações que darão base para essa empolgação com o mais novo live action da Disney, disponível nos cinemas e na Disney Plus.
Muito bem. Trailer visto, apresentações feitas e, agora, o review propriamente dito. Preparem-se, pois o reino da moda acaba de ver sua rainha, a cruel Miranda Priestly de O Diabo Veste Prada, desbancada.
Aliás, esse é um ponto que inevitavelmente será apontado por muitos críticos, ou seja, a similaridade visual de algumas personagens das duas produções. As imagens abaixo deixarão isso mais claro…
Claro que as similaridades nos visuais não implicam em similaridades nos papéis das personagens. Eu vejo isso como uma curiosidade apenas, mas muito legal.
Outra curiosidade está na cena abaixo que, acredito, inspirou uma cena também nesse filme.
Bem, mas nem só de curiosidades se sustenta um review. O que o público leitor quer saber é: o que é Cruella? Quais os motivos de mais um live action da Disney, principalmente diante dos resultados fracos de alguns antecessores? Não seria melhor investir em animações e buscar uma retomada da era de ouro dessas obras dos estúdios Disney?
Vamos às respostas…
O que é Cruella?
Cruella é um ousado projeto dos estúdios Disney que está disponível nos cinemas e na plataforma Disney Plus (por uma taxa adicional). O longa-metragem é baseado na animação 101 Dálmatas, lançado no longínquo ano de 1961; ainda que não seja uma cópia exata ou aproximada de sua fonte, Cruella tem diversos pontos similares e referências, porém é uma trama feita para contar a origem de Cruella de Vil, sua ascensão, a parceria entre ela e a dupla Jasper e Horácio, além de embasar uma provável continuação.
A história aborda a infância sofrida (e feliz) de Estella (interpretada pelas atrizes Billie Gadsdon e Tipper Seifert-Cleveland) ao lado de sua mãe, a jovem e bondosa Catherine (Emily Beecham). Estella é uma criança inteligente, ardilosa e rebelde. Suas ações não são essencialmente más, porém é fato que ela precisa de condução ou poderá se transformar em alguém com potencial para provocar estragos.
Em meio a esse turbilhão de emoções, Estella vê a morte da própria mãe, fato que a deixa – definitivamente – órfã e e entregue à própria sorte. É nesse ponto que ela se depara com os jovens Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser), ladrões e sobreviventes.
O tempo passa e nos deparamos com a jovem Estella, uma mulher que vive de golpes e sabe que tem potencial para sair desse tipo de vida. Com uma rara oportunidade, ela consegue trabalho e a chance de conhecer pessoalmente a Baronesa (Emma Thompson), uma dama da alta costura que possui poder e fama suficientes para comandar seus empregados e até pessoas influentes da alta sociedade. Stella e a Baronesa estão ligadas por um passado em comum.
E é aí que começa um maquiavélico plano para retomar algo que ela ama muito e, acima de tudo, conseguir seu espaço no cenário da Moda Internacional… e do poder.
Quais os motivos para mais um live action da Disney?
Essa é uma questão de fácil resposta. A Disney está há muito tempo investindo em adaptações de suas animações de maior sucesso. A sequência dessas adaptações não segue uma lógica visível, porém o importante é que há mais sucessos do que fracassos.
Ainda assim, alguns live action não obtiveram o sucesso esperado. Logo, seria prudente ter cautela na escolha da animação que será adaptada e, por tal, achei estranho demais um filme específico sobre Cruella De Vil. No entanto, por mais estranho que seja, Cruella é um ótimo filme e quebra a má fama obtida por causa de algumas das últimas adaptações.
Para finalizar este tópico, ainda há uma certa fragilidade nos roteiros de filmes, fato facilmente constatável através das incontáveis adaptações de quadrinhos, livros, animes, etc. Com base nessa máxima, o que seria mais fácil do que trazer sucessos das animações para o “mundo real”? É quase certo que a nostalgia e a fama das obras adaptadas, aliadas às tramas praticamente inalteradas, façam dos live action o melhor investimento.
Sendo assim, respondendo à terceira pergunta, no momento as animações em longa-metragem estão praticamente descartadas, exceto aquelas feitas exclusivamente para o Disney Channel e Disney Plus.
Vilã?
Caso sua memória seja boa, certamente lembrará de Malévola (interpretada por Angelina Jolie). Foram dois filmes que descontruíram a visão passada pela animação A Bela Adormecida (1959) onde Malévola é, indiscutivelmente, a vilã.
Com base nesses dois filmes, ao ouvir que Cruella seria produzido, fiquei muito preocupado em termos outro filme no qual uma personagem essencialmente má teria sua índole modificada para agradar a um público específico (com isso não quero dizer que Malévola seja um filme ruim, compreendam).
Qual não foi minha alegria ao acompanhar o desenrolar da trama. A transição de Estella para Cruella é feita com maestria, o que auxilia o espectador a compreender que – em essência – a menina caminha entre o bem e o mal, porém a mulher pende mais para um lado dessa balança.
Apesar disso, Cruella não é a vilã desse filme. Vi o público vibrar com algumas cenas onde Emma Stone entrega uma anti-heroína com fibra, determinada a fazer seu próprio destino (ainda que com métodos pouco convencionais), uma mulher cuja infância e tragédia a moldaram ao ponto de ser alguém mais fria, mas nunca indiferente, capaz de reconhecer seus erros e corrigi-los a tempo (algumas vezes a contragosto, é verdade).
Logo, não há uma Cruella 100% vilã, o que não impede que a sequência (já confirmada) venha com ela mais ardilosa, cruel e poderosa, bem próxima à personagem consagrada nas animações e nos dois live action que antecederam essa obra.
Atuações.
Cruella é uma produção com um elenco primoroso. O destaque óbvio fica por conta da atuação impecável de Emma Stone como a própria Cruella, mas é impossível imaginar a carga dramática e sarcástica dessa obra sem a presença de Emma Thompson (Baronesa). Também é possível ver a consistente atuação de Mark Strong (John) e John McCrea (Artie) e da atriz Emily Beecham que interpreta a mãe de Stella, Catherine.
Servindo como âncoras que mantêm Cruella mais próxima da personagem Stella do que da vilã que conhecemos, estão Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser).
Também com uma participação menor e consistente estão a atriz Kirby Howell-Baptiste (Maya) e o ator Kayvan Novak (Roger Dearly) que provavelmente terão uma maior atuação na próxima produção.
Roteiro.
A inclusão de elementos da animação original em um roteiro feito para contar uma origem foi brilhante. Há muitos pontos relacionados à animação de 1951 que são “explicados” neste filme. Sem apelar para o sentimentalismo e com detalhes que encantam, Cruella foi escrito para realmente ser um sucesso, além de apagar a péssima impressão de alguns dos mais recentes live action da Disney.
A história conduz o espectador acerca do passado de Stella, como ela conheceu seus auxiliares, a origem de sua fortuna e partes do passado que jamais foram explicados antes. Entretanto, foi através das cenas de aparição de Cruella nos eventos da Baronesa (a antagonista da personagem) que a diversão se torna garantida. Não duvidem, é uma cena mais divertida e elaborada que a outra.
O que se destaca ainda no roteiro é a forma como ele transporta o público para dentro da trama, isto é, ele cria uma empatia entre quem assiste ao filme, levando-o a torcer por Cruella, por mais estranho que isso possa parecer para quem só conhece as versões antigas da personagem.
Fotografia, efeitos visuais e figurino.
Uma história bem contada precisa de elementos capazes de agregar valor ao roteiro; não há uma trama criada para o audiovisual que faça sucesso sem elementos capazes de engrandecer e dar substância à trama. Fotografia, música, efeitos visuais, figurino e, claro, as atuações, são alguns desses pontos que podem determinar se um longa-metragem será bom ou ruim.
Cruella tem, como já disse, um ótimo roteiro. Este, por sua vez, é complementado de forma brilhante pela linda fotografia, efeitos visuais interessantes e um figurino impressionante. Parte do figurino, inclusive, se vale de efeitos visuais elaborados e compõe a narração com primor.
Entretanto, todos esses elementos citados não seriam suficientes para criar uma obra de sucesso. Um bom filme precisa de uma direção competente, capaz de compreender o roteiro e dirigir atores através dos incontáveis “takes”. Essa direção foi confiada a Craig Gillespie. Gillespie tem, até o momento, o filme Eu, Tonya como seu mais consagrado filme, mas Cruella veio para reforçar essa filmografia.
Sucesso?
Indubitavelmente, Cruella já figura entre as três melhores adaptações de desenhos da Disney. O público, seja dos cinemas ou do Disney +, já atribuiu notas altas à produção, tal como feito por muitos críticos de cinema.
Esse sucesso já garantiu, além da sequência, uma adaptação da obra para o mangá.
Nota final.
Emma Stone é a escolha perfeita para esse papel. Ela dá vida à Cruella e nos entrega uma personagem cativante, mesmo tendo um caráter duvidoso.
O filme é um achado e dá novo vigor aos live action da Disney. Há muito mais a ser dito sobre a obra, porém quero que desfrutem de cada cena com o mínimo de spoilers. Aproveitem e não deixem de comentar, após ver o filme, se concordam ou discordam da minha análise.
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